Cruzeiro e Vôlei Futuro travaram mais do que uma batalha por um lugar na final da Superliga Masculina de Vôlei. Fora das linhas, da rede e dos bloqueios, o que virou notícia foi a recepção pra lá de calorosa que o jogador Michael, do Vôlei Futuro, teve no primeiro jogo, sendo aclamado de “bicha, bicha”, por quase a torcida inteira, incluindo mulheres, idosos e crianças.
Vivemos a sociedade que discute a intolerância, o preconceito e que está mais à vontade para aceitar a diversidade. O ato homofóbico contra Michael ganhou destaque Brasil afora, o Cruzeiro se viu obrigado a se retratar e a pagar uma multa de R$ 50 mil por conta das ofensas. O time de Araçatuba levantou bandeiras do arco-íris, fez uma linda festa contra a intolerância e parece que a justiça foi feita. Mas os nossos amigos Bolsonaros andam por aí, saudosos da ditadura.
De um lado, o jogador homossexual. De outro, o deputado que dispara feito metralhadora ofensas contra negros, cotistas, gays e maconheiros. E nenhum deles está errado. Cada um defende um grupo social. Ou você acha que só existe um Jair Bolsonaro? Mas um ponto une a trajetória desses dois cidadãos: o politicamente correto, a maior praga educativa dos últimos tempos.
Negão virou afro-descendente. Anão virou pessoa de baixa estatura. Sapatão virou mulher com atração pelo mesmo sexo e time pequeno, clube de baixo investimento. E com essa cortina de ferro da moralidade, estamos traçando um caminho muito mais perverso do que o preconceito. Estamos aprendendo a velar nossa intolerância achando que assim nos tornamos pessoas mais compreensivas com a diferença. Mas os Skinheads, Carecas do ABC, grupos neonazistas e matadores de índios e moradores de rua dão o alerta de que o copo do ódio racial, sexual e étnico está transbordando.
O excesso do politicamente correto está nos deixando sem graça, com receio até de piada de português para não ser processado pela comunidade lusa. No futebol, acabou a farra moleca de Paulo Nunes e suas máscaras da Tiazinha e da Feiticeira, de Viola imitando um porco, da descontração na hora do gol. Se um jogador joga contra o ex-clube e faz gol, não comemora por respeito. Palmeirense não pode mais ser chamado de porco. Nem corintiano de gambá. Muito menos são paulino de bambi e santista de sardinha.
Nas escolas, toda a gama de apelidos trocados entre os alunos tem sido repreendido em nome da moral e dos bons costumes. Rolha de poço, quatro olhos, leite azedo, viadinho, Olivia Palito. Tudo proibido. O bullyng se tornou o responsável por todas as frustrações escolares, pelo ex-aluno desequilibrado que abriu fogo contra a escola em Realengo. Os apelidos, coisa saudável, têm se transformado em bazucas do desrespeito.
Estaríamos perdendo a linha entre a brincadeira saudável, o bom humor e a intolerância. Para os profetas do politicamente correto, é tudo farinha do mesmo saco. A polícia do pensamento continua fazendo ronda para que as ditas minorias sejam respeitadas, nem que seja à força e goela abaixo. Mas respeito e tolerância não se conquistam com a supressão das ofensas, com o eufemismo das palavras e com as mordaças nos xingamentos. O diálogo e o bom senso ainda são os melhores remédios.
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