Já passa da uma da manhã. Enquanto a rodoviária de Bauru parece um faroeste, de tão vazia, um ônibus para. O motorista olha esquisito, mas sorri. Dentro do veículo está um jovem, vestindo uma túnica branca enorme que esconde até os pés, um turbante e livros na mão. O bigode ainda espesso e o rosto moreno denunciam: só pode ser o cara.
Khalid Mohamed Al Waheib, 22, estudante de Engenharia Industrial, mulçumano. Nascido em Omã (2,8 milhões de habitantes), país da região do Golfo Pérsico, vizinho dos Emirados Árabes e da Arábia Saudita. Pai: Mohamed, policial. Não sei o nome da mãe. Apenas que ela tem carro próprio e dirige. Possuem dois camelos. Apesar de viver atualmente na capital omani, Mascate, Khalid é filho do deserto, assim como os nove irmãos. A família vive em uma região desértica ao sul do país.
Khalid Mohamed Al Waheib, 22, estudante de Engenharia Industrial, mulçumano. Nascido em Omã (2,8 milhões de habitantes), país da região do Golfo Pérsico, vizinho dos Emirados Árabes e da Arábia Saudita. Pai: Mohamed, policial. Não sei o nome da mãe. Apenas que ela tem carro próprio e dirige. Possuem dois camelos. Apesar de viver atualmente na capital omani, Mascate, Khalid é filho do deserto, assim como os nove irmãos. A família vive em uma região desértica ao sul do país.
Khalid e alguns de seus nove irmãos
Omã é singular, pois seu regime governamental é um sultanato. O sultão do momento, Qaboos bin Said, está prestes a completar 40 anos no poder. A nós, ocidentais, cheira a ditadura. Para eles, o líder deve ser justo com seu povo. Se não eles o derrubam. Nunca ouvi falar sobre revoluções omanis para tirar o sultão do poder. A pouca informação disponível me informa que o país foi parte do império dos Sassânidas e uma ex-colônia britânica
Era a primeira vez que Khalid saia do mundo árabe, que ainda causa muito fascínio e espanto aos olhos do Ocidente. O choque de culturas era inevitável. Lá se come com a mão em grandes tigelas e as festas se restringem a eventos familiares. Aqui, o jovem muçulmano, que não come nem presunto e porco, não bebe nem fuma, se viu em uma batalha épica para manusear um garfo e uma faca e experimentou a primeira festa da vida. Khalid preferiu usar uma colher e para certo espanto, até ensaiou umas dança, até com pagode, mesmo que contido, porém alegre.
Era a primeira vez que Khalid saia do mundo árabe, que ainda causa muito fascínio e espanto aos olhos do Ocidente. O choque de culturas era inevitável. Lá se come com a mão em grandes tigelas e as festas se restringem a eventos familiares. Aqui, o jovem muçulmano, que não come nem presunto e porco, não bebe nem fuma, se viu em uma batalha épica para manusear um garfo e uma faca e experimentou a primeira festa da vida. Khalid preferiu usar uma colher e para certo espanto, até ensaiou umas dança, até com pagode, mesmo que contido, porém alegre.
A jornada khalidiana foi muito além de um garfo e uma faca. Já no aeroporto de Mascate, a bagagem se extraviou. Voou de lá até Abu Dhabi, depois Paris, São Paulo. Ônibus até Bauru. Mais ou menos um dia. Ele é o primeiro universitário da única universidade pública de Omã em um programa de intercambio curto (dois meses) da Unesp. De início, faria um projeto no campus de Bauru, mas por falta de um professor que o orientasse, teve que se transferir para Guaratinguetá, onde também oferecem Engenharia de Produção, similar com seu curso.
Moeda de Omã. Um Rial equivale a R$4,60
Na semana em que esteve comigo, Khalid, que fala um inglês muito razoável, aprendido na faculdade, se mostrou muito entusiasmado com o Brasil, com a intensa produção canavieira, com as praças centrais, inexistentes nas cidades omanis e da fauna e da flora, que ele pode apenas vivenciar enjauladas em um zoológico. Volto para casa depois de embarcá-lo para São Paulo. Aqui, ficaram o turbante e uma nota de Rial, a moeda do Omã. Bato os pés no tapete antes de entrar. Parece sair areia. Atrás de mim, a rua parece um deserto. Um camelo ainda passa antes da porta se fechar.
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