Na versão brasileira de “A Senhora de Dubuque”, clima pesado e ações muito longas prejudicam a peça
Quando se resolve traduzir uma peça, um livro, uma música ou um filme de uma língua estrangeira, o risco de se dar um tiro no pé é enorme. Em A Senhora de Dubuque, do teatrólogo norte-americano Edward Albee, em cartaz no TUCA desde o dia 12 de março até 10 de abril, a teoria se confirma. Traduzida por Andrés Santos Júnior e José Paulo Ficks, a versão brasileira, com Alessandra Negrini no papel de Georgia, e Karin Rodrigues, no papel de Elisabeth, a senhora de Dubuque, tem dificuldades em empolgar o público, que além de algumas risadas em algumas cenas cômicas, se mantém indiferente e até com ar de cansaço ao longo de quase duas horas de produção, dirigida por Leonardo Medeiros.
Separada em dois atos, o drama de Albee lida com o espinhoso processo da aceitação e da identidade perante a morte. Jo, casada com Samuel (Joaquim Lopes) está reunida com amigos em sua casa, e até com sarcasmo anuncia sua doença e a morte próxima. Sam, o marido dedicado e inseguro, reluta em aceitar que vá perder a esposa, tratando os casais Carol (Patrícia Pichamone) e Fred (Sérgio Guizé), Edgar (Luciano Gatti) e Lucila (Carolina Manica) com extremo desprezo. Fred, o troglodita alcoólatra, representa o homem amargo até com a futura esposa. Edgar, o amigo fiel de Sam, aceita com passividade os insultos do amigo.
Foto: divulgaçãoO primeiro ato se desenrola na reunião entre casais. Os diálogos, que muitas vezes não funcionam, arrastam o desenrolar da trama, que vai se tornando longa e cansativa. Já no segundo ato, com a entrada da senhora de Dubuque e Oscar, a peça se torna mais psicológica e o texto flui com mais intensidade. Destaque para a atuação muito segura e calma de Karin Rodrigues e ao humor ácido de Edson Montenegro. Alessandra Negrini parece não ter se acertado no papel, que está forçado demais. O ambiente pesado da morte em estilo bretão não se desenrola com naturalidade na primeira montagem brasileira da peça de Edward Albee.
Tanto a iluminação quanto a cenografia se destacam, com a passagem de noite para o dia bem pontuado com um painel luminoso ao fundo que vai trocando de cor ao longo da peça. Já quanto à trama, com um assunto tão desconfortante para muitos que é a morte, aliada ao clima pesado e as atuações amarradas pelo excesso de seriedade fazem com que o público, ao fim do espetáculo, aplauda sem muita empolgação, como se estivesse já quase morto.
A Senhora de Dubuque
Sextas e sábados, às 21h30, e domingos, às 18hrs
Ingressos: R$ 40 (estudantes e maiores de 60 anos e aposentados pagam 50%)
Informações: http://www.teatrotuca.com.br/
Nenhum comentário:
Postar um comentário