sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

O vermelho da fome
Enquanto classe petroleira sai às ruas para apoiar governo de Hugo Chávez, estudantes fazem greve de fome pela defesa dos direitos humanos

Há 12 anos na presidência da Venezuela e se preparando para concorrer à reeleição no ano que vem, Hugo Chávez Frias tem vivido, nos últimos meses, um racha na população. Segundo as últimas pesquisas do Dataanálisis, apenas 23% dos venezuelanos está inclinado a reelegê-lo, dando-lhe mais seis anos no poder. Quanto à popularidade, está na casa dos 50%, mesmo que alguns fanáticos chavistas jurem que 90% da Venezuela está fechada com El comandante até a morte.
No dia 17 de fevereiro, as ruas do centro da capital, Caracas, amanheceram repletas de funcionários da PDVSA (Petróleo da Venezuela) prontos para demonstrar seu apoio ao governo, às políticas petroleiras e à revolução bolivariana, a principal meta de Chávez na presidência. Guiado pela história e exemplo de Simon Bolívar, o presidente venezuelano e seus aliados têm feito de tudo para construir uma nação voltada ao socialismo e contra o império norte-americano.

Enquanto a classe petroleira se aglomerava em frente ao Congresso Nacional com faixas, bandeiras e muito vermelho, lá dentro, os deputados de oposição cobravam dos deputados do PSVU (Partido Socialista Venezuela Unida) explicações sobre o plano de refinamento de petróleo e dos planos de moradia. Segundo o periódico El Nacional, as exportações de gasolina venezuelana cairiam 64%, mesmo que a oferta do produto aumentou no país, que tem uma das maiores reservas de petróleo do mundo.
Do outro lado da Caracas, da cidade metropolitana de Cachao, reduto da elite caraqueña e um dos centros de resistência da política chavista, estudantes universitários ocupavam as frentes das embaixadas da Costa Rica, Chile e Brasil, além da sede da OEA (Organização dos Estados Americanos) com a Operacíon Libertad, pedindo a visita de uma comissão da OEA para averiguar a falta de respeito aos direitos humanos do governo, que segundo o assessor de imprensa da JAVU (Juventude Ativa Venezuela Unida) Gilberto Coronel, mantém 27 presos políticos e três deputados eleitos que perderam o direito ao voto por serem da oposição.

“Essa luta não é só política, e sim pela defesa dos direitos humanos” ressalta o estudante de jornalismo em Maracay, a 100 km de Caracas. Em todo país, estudantes de 10 estados aderiram às greves de fome, totalizando 50 pessoas. Na sede da OEA, 13 pessoas estão há 20 dias tomando apenas líquidos e soro, deitadas em colchões e barracas improvisadas em frente à instituição. Do lado de fora, pessoas do bairro dão apoio à manifestação dos jovens, como o ex-deputado Paulo, que segundo conta, uma vez entregou uma carta de uma linha nas mãos do ex-presidente Lula. “O Chávez quer uma ditadura para a Venezuela”.