quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

Alma brasileira, coração cubano

Cubanos que vivem na região de Rio Preto e gente daqui que foi morar na ilha do Caribe mostram que os dois países têm muitos laços em comum

Brasil e Cuba têm muito em comum. E não são só as praias cartão-postal, povo alegre e gosto pela música que unem os dois países. A medicina cubana, um dos pilares da política socialista dos irmãos Castro, no poder desde 1959,  atrai muitos brasileiros que vão estudar ou buscam tratamentos por lá.  O casal Mauricio e Mercedes Brandão, de Tanabi, foi buscar nas mãos de médicos e fisioterapeutas cubanos a esperança para curar o filho, vítima de um acidente que o deixou paraplépligo, em 1991, ano da queda da União Soviética, a grande parceira de Cuba na época.

“O Mauricinho tinha 18 anos quando quebrou duas vértebras em um acidente na represa do nosso sítio e ficou 5 meses internado em um hospital de Brasília. Lá, ficamos sabendo de um rapaz da Bahia que tinha o mesmo problema, foi a Cuba e conseguiu recuperar o movimento das pernas”, revela o casal, que pouco conhecia sobre Cuba, mas resolveu encarar o desafio.

Mauricinho ficou quase um ano em tratamento na ilha e teve muitas melhoras. Ele não voltou a andar, mas ganhou um anjo da guarda que o acompanha até hoje: o fisioterapeuta Pedro Penate, 50.  Pedro, um dos fundadores do Centro Internacional de Referência Neurológica, conta que o diferencial do tratamento de lá é que cada paciente é assistido de forma individual por um “facilitador” termo usado por eles para os profissionais do centro.

“Tem gente do mundo inteiro que se trata com a gente e em questões médicas, estamos entre os melhores”, garante o fisioterapeuta, que conheceu uma mulher de Vitória enquanto trabalhava em Havana, se casou com ela e veio morar no Espírito Santo. Antes de exercer a profissão no Brasil, Pedro passou 1 ano e meio fazendo matérias extras e exames no Rio de Janeiro para ter seu diploma  validado.

Na capital capixaba, ajudou a fundar a primeira faculdade de fisioterapia do estado e reencontrou a cubana Marta, com quem foi casado e voltaram a ficar juntos. Mas a vida em Vitória tomou outro rumo com a notícia de que Mauricinho, hoje com 38 anos, sofreu um acidente vascular encefálico.

Pedro largou os empregos que tinha e veio ao interior de São Paulo cumprir o que, segundo ele, é sua última missão em terras brasileiras. “Quero que o Maurício tenha uma vida minimamente decente, assim como quando retornou de Cuba e conseguia fazer quase tudo por conta própria. Assim que eu terminar essa missão, quero voltar para Cuba. Estão acontecendo muitas mudanças lá, que são muito positivas, e, além disso, minha família toda está lá, exceto meu filho brasileiro, hoje com 16 anos”.

                                           Praça Chê Guevara, em Havana



Diplomados de Cuba

Todos os anos, muitos jovens brasileiros seguem para a Argentina, Bolívia e Cuba com o desejo de estudar Medicina, já que no país ele é o curso mais concorrido, um dos com  maior número de despesas e que exige maior tempo de preparo para o vestibular.

 Com dificuldades de pagar um curso de medicina no Brasil e sabendo das facilidades de ingressar em uma universidade cubana, o médico intensivista Cláudio Pessoa de Barros Filho, 31, saiu de Monte Aprazível em 2000 para realizar o sonho de ser médico e não se arrependeu da escolha. “O grande diferencial da medicina cubana porque ela se preocupa em formar profissionais voltados ao próximo. Lá, o clínico geral é o médico mais respeitado, pois ele é básico nas necessidades da população. No Brasil, muita gente só quer fazer Medicina por que dá dinheiro e quer ser cirurgião plástico ou dermatologista, por causa dos status”.

Cláudio estudou na Faculdade Santa Clara Villa, em Santa Clara, de 2000 a 2007 e relata que as classes têm no máximo 20 alunos e que as instituições cubanas ainda não sofrem muita influência das grandes indústrias, o que torna o ensino mais voltado às pesquisas dos problemas do povo. Para o médico, a oportunidade de estudar em Cuba foi uma experiência ímpar na vida e hoje ele se sente muito preparado e com um olhar mais humano para lidar com os pacientes.

O único problema da graduação no exterior foi conseguir validar o diploma na volta ao Brasil. Para ingressar na instituição cubana, Cláudio não prestou vestibular e teve o histórico escolar analisado. Depois de 6 anos de curso, ele prestou a Estatal, que consiste em 2 provas teóricas e 1 prática para medir os conhecimentos e validar o diploma.

Só que ao retornar à terra natal, Cláudio precisou de mais 2 anos e 8 meses para exercer a profissão. “Validar o diploma cubano é complicado e bem burocrático. Ele tem que ser revalidado em faculdades estaduais ou federais, e isso só acontece quando tem abertura de editais para validação. Depois,  inicia-se uma analise curricular e uma prova, geralmente dividida em duas fases. Na fase da entrevista é onde temos mais dificuldades, e a faculdade pode pedir a complementação de matérias ou horas faltantes referentes à grade no Brasil. Dá trabalho, mas garanto que além da economia, já que as faculdade de Medicina aqui são muito caras, sai com uma formação profissional diferenciada”.


                                                    Cláudio, em trabalho voluntário pela faculdade


Um amor rio-pretense

O também fisioterapeuta e com graduação em Esportes, Ariel Sotto Figueredo, 30, resolveu fazer as malas e tentar a vida no Brasil, onde está há 10 meses. O pai de Ariel, que é engenheiro mecânico, mora em São Carlos e dá aulas em São João Del Rei-MG, vive no Brasil há bastante tempo, tendo inclusive se casado de novo e dado a ele 3 meio-irmãos brasileiros.

Mas o coração do cubano não quis saber da vida em São Carlos. Em um site de relacionamentos, ele conheceu a arquiteta Juliana Franco de Angelis, 34, e não pensou duas vezes em vir para Rio Preto. “Lá em Cuba, a gente vive bem sem internet, já que ela ainda é bastante controlada pelo governo. Mas aqui, ela é o pão de cada dia e o lugar que eu conheci o motivo por estar em Rio Preto”.  Juliana, que não acredita muito em romances virtuais, se surpreendeu com a própria história. “O engraçado é que eu sempre dizia que o homem da minha vida seria estrangeiro”.

Os dois mal começaram a namorar e resolveram se casar. O cubano, que entrou com visto de turismo e
regularizou sua situação para viver aqui legalmente, têm se virado como servente de pedreiro, garçom e bar tender, enquanto aguarda a validação de seu diploma. Segundo ele, a vida em Rio Preto é boa e dá muitas oportunidades de trabalho. “Os jovens cubanos, assim como no mundo inteiro, querem usar roupas bacanas e viver bem. Em Cuba, você pode trabalhar a vida inteira e muitas vezes não consegue comprar um carro. Minha mãe, que é engenheira, não tem um”.

Ariel diz que nunca teve problemas de preconceito e se diverte quando as pessoas perguntam “você é cubano, mas não é preto”, muito por conta da imagem que se tem dos atletas de voleibol e atletismo. “Brasil e Cuba são muito parecidos na mistura racial. Lá tem de tudo: descendentes de negros, de europeus. Miami, que os brasileiros tanto gostam de fazer compras, é quase um pedaço de Cuba”.

Para Ariel, a imagem de um país inacessível não combina mais com Cuba. “Os EUA tinham fechado meu país (o bloqueio econômico à Cuba durou de 1962 a 2009) e Fidel nos fechou dentro da ilha. Mas muita coisa está mudando. Os cubanos já tem certa liberdade de entrar e sair do país, comprar dólares, eletro-eletrônicos e carros, além da flexibilidade nas relações políticas. Um amigo cubano retornou de lá por esses dias e voltou assustado com as mudanças. Não se derruba em um dia tudo o que o Fidel fez, mas existe um ditado que diz que não existe mal que dure 100 anos, nem corpo que dure isso também”.





                                            Modelos antigos de ônibus são comuns na ilha




Entraves burocráticos para se revalidar o diploma 






Para o advogado José Galhardo Viegas, o melhor caminho para tentar obter autorização do registro profissional perante o conselho da categoria é acionar a Justiça. O advogado José Galo, especializado nesse tipo de trabalho, com escritório Rio Preto, explica que é preciso entrar com ação declaratória na Justiça Federal, com pedido de tutela antecipada, para que, de imediato, o juiz autorize o profissional a atuar na área. “Isso é necessário porque os conselhos têm exigido a revalidação do diploma quando esses profissionais vão fazer a inscrição, porque existem tratados internacionais e princípios constitucionais que reconhecem esses diplomas como sendo válidos”.

Mas um projeto piloto do Ministério da Saúde e Educação com estudantes brasileiros em universidades latino-americanas revelou dados alarmantes. Dos 628 profissionais que se inscreveram para os exames de proficiência e habilitação em medicina, 626 foram reprovados e apenas 2 conseguiram autorização para clinicar.

O Conselho Federal de Medicina e a Associação Médica Brasileira, pressionados por um projeto do governo de validação automática do diploma estrangeiro, têm denunciado a má qualidade da maioria das faculdades de medicina da América Latina, alertando que os médicos por elas diplomados não teriam condições de exercer a medicina no país. Segundo as entidades, entre 2005 e 2009, só 25 estudantes brasileiros que estudaram em Cuba conseguiram reconhecer o diploma no Brasil e regularizar sua situação profissional.

Partidos como o PT, o PC do B e o MST alegam que o modelo cubano de ensino médico valorizaria a medicina preventiva, voltada mais para a prevenção de doenças entre a população de baixa renda do que para a medicina curativa, o que facilitaria o reconhecimento do diploma. As entidades médicas brasileiras, no entanto, afirmam que não faz sentido reduzir o rigor dos exames de proficiência e habilitação para que o diploma seja validado.














  

sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Fim da linha


Corinthians x Palmeiras. Vasco x Flamengo. Internacional x Grêmio. São Paulo x Santos. Atlético-PR x Coritiba. Avaí x Figueirense. Cruzeiro x Atlético-MG. Botafogo x Fluminense. Bahia x Ceará. Só vai acontecer isso na última rodada maluca do Brasileirão, e tirando o combate Atlético-GO x América-MG, todos os outros 9 jogos estão interligados.
Amanhã, a partir das 17 hrs, coloque-se na pele de Felipão, Tite, Luxemburgo e Cristovão Borges e comece a sentir a adrenalina. Cada músculo do torcedor corintiano, palmeirense, flamenguista e vascaíno tenso e pronto para explodir na hora do gol. Os clássicos regionais acabaram indo para a última rodada para tentar diminuir o número de “entregadas” para prejudicar o rival, já que elas existem e até a Vovó Mafalda sabe disso.
No jogo das combinações, o Corinthians só não leva o título se perder do Palmeiras e o Vasco bater o Flamengo. No campo das rivalidades, já tem torcedor verde abusando do espírito de porco e torcedor gavião ironizando o fato de que só um jogo assim para o Palmeiras decidir algum título, mesmo que simbólico. A única coisa certa é que o Titemão não terá Ralf, Danilo e Emerson para o dérbi, enquanto o rival, exceto Marcos, não sofre nem com lesões nem com cartões.
Do outro lado do quarteto paulista, o São Paulo, que confirmou a permanência de vô Leão no ano que vem, ainda sonha com uma vaga na Libertadores, mesmo apresentando um futebol chocho e desanimado. Para 2012, já é certo no Tricolor que Dagoberto, Rivaldo e Marcos não continuam na barca. E deve ter mais faxina. Já o Santos, que só está preocupado com as belezas do Japão e do Mundial, manda a campo o time B, com a missão de honrar as cores peixeiras, enquanto Neymar e Cia se deliciam com uma porção de sushi.
 Mas a coisa está quente também em outras freguesias. No mini-carioca da rodada, o Vasco, que foi eliminado da Sulamericana, junta suas últimas forças para subir ao topo mais uma vez esse ano, já que é o atual campeão da Copa do Brasil. Mas o Urubu, que é bicho pirracento, nem pensa nessa possibilidade. Mas o comandante da urubuzada, pofessô Luxa, pode não ter Gengiva Gaúcho para a batalha final. Os vascaínos não contam com Éder Luis, Juninho Pernambucano e Allan. Mas receberão as energias do técnico Ricardo Gomes, que foi liberado pelos médicos para assistir ao clássico.
Em Minas, uai! o Galo, que lutou quase todo o campeonato para não cair, pode ganhar presente do Papai Noel: rebaixar o eterno rival Cruzeiro pela 1º vez. O mando é da Raposa, que não terá Fábio nem Montillo, os melhores do time. E o técnico Cuca, que começou o ano no Cruzeiro e depois assumiu o Atlético, pode terminar colocando a última pá de terra no enterro pra segundona.
No sul, pode acontecer situação parecida. O Furacão recebe o Coxa Branca e precisa vencer o arque rival para, em casos de derrota ou empate de Cruzeiro e Ceará, escapar da queda. Só que o Coritiba precisa da vitória para carimbar o passaporte à Libertadores. E se a torcida atleticana zoou o rival pela série B em 2010, pode agora receber o “presente de grego” de volta.
E as batalhas continuam acirradas, com o Ceará precisando ganhar do Bahia para sobreviver. O Inter, ainda com pequenas chances de Libertadores, vai pra cima do rival gaúcho, que demitiu Celso Roth essa semana e já anunciou Caio Júnior como novo treinador gremista. E num último respiro, o Figueira tenta ir à Libertadores e de quebra, ganhar do Avaí, rebaixado e lanterna há algum tempo, dentro da Ressacada, e fazer a festa dentro da casa do rival.
Se alguém tinha dúvidas de que um campeonato de pontos corridos não poderia ter tantas emoções, é melhor fazer uma jarra de suco de maracujá, ajeitar o marca-passo e economizar as unhas para amanhã. Vai acabar.